sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Grande Debate


















- Você veio do macaco, sim!

- Não vim não! Deus criou Adão e Eva!

Era Mateus defendendo a teoria do Criacionismo, que diz que Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança, e Samuel, sustentando a teoria da Evolução das Espécies, salientando que Deus criou o Espírito, mas que o corpo físico evoluiu de um ramo da espécie dos primatas. E assim, os dois primos seguiam discutindo.

Dona Isa, vendo a discussão dos netos, achou a solução:

- Proponho um debate! - disse ela. Domingo, após o almoço, quando toda a família estiver reunida, cada um poderá expor o seu ponto de vista sobre a criação do homem.

Os primos concordaram animados, pois teriam tempo para pesquisar e fundamentar muito bem suas teses.

Assim, no domingo, no horário combinado, Mateus iniciou o debate:

- No princípio, Deus criou o céu e a Terra. Ele fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou, conforme diz a Bíblia, no livro Gênesis.

O menino continuou, dizendo que Deus criou Adão e, a partir deste, Eva, ambos a Sua imagem e semelhança e os expulsou do paraíso porque eles o desobedeceram, comendo o fruto proibido. Leu alguns trechos da Bíblia e citou explicações de teólogos famosos.

Quando terminou, Mateus foi muito aplaudido por todos, menos por Letícia, a irmã menor de Samuel, que se limitou a dizer muito séria:

- Eu não vim de costela nenhuma. Eu sou Espírito imortal.

Restabelecido o silêncio, Samuel pôde começar a falar:

- Os seis dias da criação referidos no Antigo Testamento são eras, períodos de milhares de anos. Adão e Eva são figuras lendárias, que representam um grupo de Espíritos moralmente atrasados que reencarnaram no planeta Terra para evoluírem espiritualmente.

Samuel explicou também que Deus criou o Universo composto de dois elementos: espírito e matéria. Que todos os seres humanos são Espíritos, criados por Deus, e que estamos reencarnados temporariamente em um corpo físico para evoluir intelectual e espiritualmente.

- Reencarnamos muitas vezes, até atingir a perfeição. Todos os Espíritos são criados nas mesmas condições por Deus e evoluem utilizando o livre-arbítrio. Deus foi muito sábio e bondoso, permitindo que evoluíssemos por mérito próprio. Ele seria injusto se criasse alguns seres perfeitos, chamados anjos, e outros destinados eternamente ao mal e ao sofrimento. Se tivéssemos uma reencarnação apenas, como explicar as diferenças entre os seres: uns ricos e outros miseráveis, uns com corpo perfeito e outros doentes?

Naquele momento, Samuel fez uma pausa. Tinha um olhar sério, mas transmitia calma e segurança. O menino continuou:

- O corpo físico dos seres humanos evoluiu de um mesmo tronco que, em determinado momento da evolução se bifurcou, originando, de um lado a espécie humana, e de outro, os macacos, conforme comprova a ciência. É a teoria da evolução das espécies, explicada por Charles Darwin, ou seja, é a lei de evolução, criada por Deus, se manifestando. Essa evolução do corpo material ocorreu em várias partes do planeta, em diferentes épocas, o que explica a diversidade das raças existentes. Ora, se pararmos para pensar, matematicamente é impossível justificar a quantidade de pessoas que existem, com tão pouco tempo da existência de Adão e Eva até os dias de hoje, como apregoa a Bíblia. Não esquecendo que em determinada época houve o dilúvio que se estendeu por toda a Terra, deixando a salvo apenas Noé e sua família... Já pararam para pensar como a humanidade poderia se multiplicar a partir de três pessoas: Adão, Eva e Caim?

Aquelas informações trouxeram novas dúvidas aos presentes. Um tio mais interessado perguntou:

- Então a Bíblia está errada?

- Não - respondeu Samuel. Apenas não devemos interpretá-la “ao pé da letra”. Muitas explicações estão em sentido alegórico e devem ser estudadas à luz do conhecimento humano atual.

Samuel, para encerrar, disse que se considerava" criacionista-evolucionista", ou seja, acreditava que fomos criados por Deus simples e em ignorância para, através da evolução e das reencarnações, atingíssemos a plenitude espiritual. Foi igualmente muito aplaudido.

Ninguém saiu da sala, todos os familiares permaneceram sentados para ouvir a réplica e a tréplica, de acordo com as regras previamente estipuladas.

No encerramento, os aplausos finais foram para Dona Isa, que elogiou a atuação dos netos e lembrou que este debate deveria servir de exemplo para todos os povos, pois, embora as diferentes crenças, predominaram nele o respeito e a harmonia entre os presentes.


Claudia Schmidt

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