quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Campo de Girassóis



















O campo de girassóis estendia-se pela planície; ali cresciam girassóis grandes, pequenos e muito pequenos, plantas de todos os tamanhos. Logo de manhã, levantavam as cabeças e punham-se a olhar para o Sol; e, durante todo o dia, as cabecinhas pasmadas dos girassóis seguiam o movimento do Sol desde que nascia até que se escondia. Quando deixavam de o ver, as cabeças dos girassóis caíam como se não pudessem com tanta tristeza. Todos os dias era aquele bailado de flores seguindo o Sol. 

 Um girassol, dos tais muito pequeninos, crescia devagar, escondido, encoberto pelos outros. Esse não olhava o Sol; como era muito pequeno, quando os grandes levantavam a cabeça para ver o Sol, ele não via nada: tudo ficava tapado pelas cabeças grandes dos girassóis grandes; portanto, como ele não via o Sol, não havia razão para virar a cabeça como os outros faziam; ficava a olhar para o chão, a ver as formigas e as ervas rasteiras. Por cima dele era um teto de flores amarelas por onde não passava um único raio de sol. À noite, quando os outros baixavam a cabeça, o girassol muito pequeno podia então ver o céu. O brilho das estrelas deixava-o encantado e dizia: “Tantos sóis! Tantos sóis!” E ficava toda a noite a seguir as estrelas como os outros seguiam o Sol.

Certa manhã, as nuvens cobriram o céu e os girassóis grandes deixaram de ver o Sol; todos se queixaram e as pesadas cabeças inclinaram-se para o chão, privadas do chamamento dos raios do Sol. Como olhavam para baixo, viram o girassol muito pequeno que nem sabia o que era o Sol e não entendia as queixas dos girassóis grandes. 

Mas à noite, as estrelas também não apareceram e o girassol muito pequeno sentiu-se triste. Agora já entendia os queixumes dos girassóis grandes, daqueles que olhavam e seguiam o caminho do Sol. Na manhã seguinte, o céu estava ainda encoberto e os raios do Sol não vinham chamar os girassóis para a dança habitual e as grandes cabeças amarelas sentiam-se perdidas sem saberem para onde se virar. Então o girassol muito pequeno falou aos grandes daqueles muitos sóis que ele seguia de noite; e os grandes falaram do Sol quente que seguiam de dia.

— Nunca o vi — dizia o girassol muito pequeno. — Nem sei como é! As vossas cabeças tapam o céu e de dia só posso olhar o chão, as ervas e os animais que se movem a nossos pés. 

Os grandes girassóis sentiram-se envergonhados; na sua adoração pelo Sol, não deixavam que um irmão mais pequeno conhecesse aquele que comandava os seus movimentos! 

— Vamos deixar-te espaço para que vejas o Sol — prometeram eles. — Mas de noite queremos também olhar esses teus sóis pequeninos. 

Quando as nuvens se desfizeram e as estrelas voltaram a brilhar, todos viram o céu estrelado. Na manhã seguinte, os girassóis grandes afastaram-se um pouco; então o girassol muito pequeno viu o Sol e o movimento da sua cabeça deslumbrada acompanhou-o todo o dia.

— Que dizes tu do nosso Sol? — quiseram saber os girassóis grandes. — Não te parece que é lindo?

— Sim, é lindo — respondeu o girassol muito pequeno, ainda estonteado pela luz do Sol. — Mas os meus sóis pequeninos também são lindos! Vou olhar o Sol de dia e as estrelas de noite. É por isso que no tal campo de girassóis há um girassol muito pequeno que olha para o céu de dia, para ver o Sol, e de noite, para admirar as estrelas.


Natércia Rocha, Castelos de Areia , Nova Bertrand Editora, 1995

2 comentários:

  1. Ah, que história linda e comovente...

    Dei um passeio pelo blog... seu trabalho continua lindo e comovente, assim como a história dos girassóis...

    Um abraço com carinho...

    ResponderExcluir
  2. Olá Liz!

    Realmente é um texto que toca a quem tem sensibilidade, como você.

    Agradeço pelas palavras e fico muito feliz em saber que o nosso trabalho é apreciado por ti.

    Seja sempre bem-vinda!

    Abraços fraternos!

    ResponderExcluir