O dia nasceu enfarruscado. A pesada manta de nuvens cobria o céu todo, sem deixar de fora sequer uma nesga de azul. Devia ser do frio.
As pessoas iam à sua vida, encafuadas nos seus pensamentos, sem a sombra a acompanhá-las. Faltava a luz do Sol.
- Que dia tão feio - disse alguém.
O dia, que poucas horas tinha de vida, amuou e fez beicinho. Choramingou. Choveu.
- Já cá falta a chuva... - disse mais alguém, chapinhando na lama. - Que dia horrível.
O dia sentiu-se e, ofendido, mais carrancudo se pôs. E protestou, em forma de trovoada.
Trovejou e choveu que tempos. Depois de muito ter barafustado, o dia cansou-se. Pararam chuva e trovões. Foi um alívio. Ficou o ar lavado e a terra encharcada e contente.
- Há dias piores - disse alguém.
Não era um elogio, mas para aquele dia, que ainda não ouvira uma palavra amável, soou a elogio. Com um suspiro reconfortado, deixou que uma brisa desvanecesse as nuvens. Começaram a desenhar-se as sombras atrás das pessoas.
- Ainda vamos ter um lindo dia... - disse alguém.
O dia abriu-se num sorriso que rasgou o céu de par em par, muito azul, muito luminoso.
Brilharam as ervas e as folhas ainda molhadas.
- Que dia maravilhoso - diziam as pessoas umas para as outras.
O dia também era da mesma opinião. Mas de si para si comentou: "Como as pessoas são inconstantes. Ora dizem uma coisa ora dizem outra. Não as entendo".
Pois era. Para entender as pessoas um dia não bastava...
Irmela Wendt
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