São Francisco de Assis amou todas as criaturas de Deus, sem distinção. Santo protetor dos animais e do meio ambiente, ele nos ensina que cuidar do planeta é uma atitude religiosa e inspira o teor da encíclica Laudato Si, lançada pelo papa Francisco como um grande alerta à humanidade.
Com pés descalços e batas remendadas, São Francisco (1182-1226) perambulava pela cidadezinha italiana de Assis, a 184 quilômetros de Roma, e arredores. Enquanto a sociedade da época enfatizava a inclinação humana ao pecado, o religioso preferia louvar as belezas da Criação. Reverenciava as virtudes do homem e a perfeição da natureza. Observava em êxtase o voo dos pássaros. Dormia sob as estrelas. Inalava a brisa perfumada dos campos. O planeta era sua casa sagrada.
“Para o santo, tudo era digno de amor e respeito, nada existia para ser explorado, utilizado de maneira egoísta, irracional, exploratória, e sim para aproximar o ser humano de Deus, para torná-lo sempre melhor, mais sensível, consciente e amoroso”, esclarece o frei Medella.
“Sua fé e espiritualidade nos mostram que estamos ligados a toda a Criação e que é possível comungar do planeta sem destruí-lo”, sublinha Custódio, que nos lembra do papel de cada um nesse projeto coletivo. “São Francisco ainda nos traz a proposta de corresponsabilidade, de fraternidade e de harmonia, deixando claro que existe um Criador, que ama a tudo e convida o ser humano a ser o cuidador, o jardineiro do planeta que Ele criou”, interpreta o ambientalista.
Um dos grandes apelos do santo junto aos fiéis reside não só na simplicidade do seu estilo de vida, como também na própria maneira singela de vivenciar a religiosidade. “São Francisco me instiga a amar a natureza a seu modo, me despojando da intelectualidade e me abrindo para tocá-la, senti-la. Converso com plantas e animais e procuro captar dentro do coração as respostas de que necessito”, revela Ligia Miragaia, arte-educadora e coautora de Francisco – O Herói da Simplicidade (ed. Omnisciência), ao lado de Maeve Vida, coordenadora do Programa Omnisciência de Educação para Paz, ambas de São Paulo.
Se seguirmos as pegadas descalças de São Francisco, talvez descubramos que a natureza está à espera da nossa tomada de consciência. Pronta para que nos reconheçamos nela. “Essa é a troca verdadeira que deveria ocorrer entre as pessoas e o meio ambiente”, acredita Ligia.
A autora também destaca como inspiração para o cotidiano a incessante busca interior do santo e sua necessidade de se manter alinhado aos propósitos mais elevados. “Fico admirada por seu esforço diário para deixar o pequeno ‘eu’ e atingir o Eu Divino através de muitos exercícios espirituais, tais como oração, meditação, caminhadas silenciosas na natureza, noites em claro em contemplação e entrega profunda ao Amor de Deus. Suas descobertas espirituais eram posteriormente compartilhadas, assim como suas roupas e alimentos. Ele não guardava nada para si.” Além da capacidade de viver com o mínimo possível, Maeve enaltece a vocação do santo para a alegria. A qualquer prova. “Certa vez, enquanto andavam no inverno úmido, com parcas roupas, frei Leão, seu companheiro de jornada, lhe perguntou o que era a perfeita alegria. São Francisco respondeu: ‘Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos’.”
Justamente por banhar o mundo com sua luz, São Francisco de Assis ganhou homenagem no poema A Divina Comédia, do escritor italiano Dante Alighieri (1265-1321). “Nasceu para o mundo um sol”, diz um dos versos que alude ao nascimento do religioso.
Fonte: Blog da Cultura da Paz
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