quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Amélie Gabrielle Boudet



As mulheres, na História da Humanidade, sempre estiveram em planos secundários. Desenvolveram suas funções e contribuíram para a História, nas mais variadas formas. Umas criaram os grandes reis, outras, homens ilustres, nas áreas das ciências, artes, na política. E, tivemos aquelas que, nos bastidores, deram suporte para que vultos eminentes brilhassem.

Uma, em especial, esteve presente no século XIX. Filha única de Julien-Louis Boudet e Julie-Louise Seigneat de Lacombe, nasceu Amélie Gabrielle Boudet, no dia 23 de novembro de 1795, em Thiais, cidade do menor e mais populoso Departamento francês, o Sena. Desde muito cedo, demonstrou interesse pelos estudos. Vivaz e alegre, recebeu fina educação.

Foi professora de Letras e Belas Artes, tinha dotes para poesia e desenho, escreveu três livros: Contos primaveris (1825); Noções de desenho (1826) e O essencial em belas artes (1828).

Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, quis o destino que um dia a Srta. Amélie Boudet deparasse com o prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail.4

Logo se fez por ele notar, com seu sorriso terno e bondoso, sua gentileza e graciosidade. O contrato de casamento foi celebrado em 6 de fevereiro de 1832. Ela tinha nove mais do que Rivail, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido.4

O Prof. Rivail fundou, em Paris, o Instituto Técnico e Amélie se lhe associou, nessa afanosa tarefa educacional. Em 1835, o Instituto precisou ser fechado e entrou em liquidação. A Kardec ficaram dívidas a serem saldadas, o que fez, com nobreza.

Como só as grandes mulheres conseguem, Amélie, corajosamente, se colocou ao lado do marido. Rivail passou a fazer a contabilidade de casas comerciais e traduções. Ela, sabedora do coração generoso e preocupado do marido com a instrução de crianças e jovens, colaborava na preparação de cursos gratuitos, ministrados na própria residência do casal, à noite, e que funcionaram de 1835 a 1840.

Madame Rivail, além de conselheira, foi a inspiradora de vários projetos que o marido pôs em execução. Leymarie, que privava da convivência do casal, declarou que o Professor tinha em grande consideração as opiniões de sua esposa.

Graças ao esforço de ambos, alcançaram uma posição financeira satisfatória. Agora, Rivail poderia se dedicar à esposa que, na sua humildade e elevação de espírito jamais reclamara coisa alguma.4

Mas havia uma missão muito maior destinada a esses dois corações que se amavam e que amavam a Humanidade. O chamado se deu, em 1854, com os fenômenos das mesas girantes, que Rivail passou a observar e pesquisar.

Amélie se tornou, então, a secretária do esposo, secundando-o na nova e árdua missão da Codificação da Doutrina Espírita, estimulando-o e incentivando-o.

Lançado O livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, assinando como Allan Kardec, foi no apartamento do casal que se efetuavam sessões bastante concorridas, exigindo de Madame Rivail uma série de cuidados e atenções que, por vezes, a deixavam extenuada.

Disse Kardec a respeito dela: (…) Minha mulher (…) aderiu plenamente aos meus intentos e me secundou na minha laboriosa tarefa, como o faz ainda, através de um trabalho frequentemente acima de suas forças, sacrificando, sem pesar, os prazeres e as distrações do mundo ao qual sua posição de família a havia habituado.1

Pelo espaço de trinta e sete anos, ela foi a companheira amante e fiel do seu marido. Acompanhou nas viagens, sempre que suas forças lhe permitiram.

Com a morte de Kardec, ela deu continuidade ao seu trabalho, com desinteresse e devotamento, fundando a Sociedade para a continuação das obras Espíritas de Allan Kardec, destinada à vulgarização do Espiritismo, por todos os meios permitidos pelas leis. Assim, a Revue Spirite continuou a ser publicada, como as demais obras de Kardec e todos os livros que tratassem a respeito da Doutrina Espírita.

Durante o Processo dos Espíritas, no ano de 1875, que levou o Espiritismo à barra dos tribunais, ela foi convocada a depor. Tratada de forma desrespeitosa pelo juiz, de maneira firme, respondeu às questões e defendeu a memória de Kardec.

Todos os literatos adotam pseudônimos. Meu marido jamais pilhou coisa alguma.2
Ele desencarnara há seis anos, respeitado por eminentes figuras do pensamento mundial. Fora professor e autor de obras didáticas de elevada reputação, tinha livros traduzidos em várias línguas modernas.

Era mais um testemunho doloroso a que fora chamada.

Contam os que a conheceram que, aos oitenta e sete anos, lia sem precisar de óculos e escrevia corretamente e com letra firme.

Por volta das cinco horas da manhã do dia 21 de janeiro de 1883, tranquilamente e com o doce sorriso que sempre lhe brindava os lábios, a grande sucessora de Allan Kardec se despediu do corpo.

O sepultamento foi simples, conforme pedira, saindo o féretro de sua residência na Vila Ségur, para o cemitério Père-Lachaise, a doze quilômetros de distância, no dia 23 de janeiro.

Nas homenagens, entre tantos, falaram Leymarie e Gabriel Delanne, todos fazendo sobressair os reais méritos da sucessora de Allan Kardec. Também foi lida, pelo Sr. Lecoq, comunicação mediúnica de Antônio de Pádua, recebida em 22 de janeiro, na qual ele descrevia a brilhante recepção de Amélie por Allan Kardec e elevados amigos da Espiritualidade.

A 26 daquele mesmo mês, o conceituado médium parisiense Cordurié recebeu, espontaneamente, uma mensagem assinada por Madame Allan Kardec. Singela na forma, bela no conceito, tinha um sopro de imortalidade e comprovava que a vida continua.

Mary Ishiyama

Bibliografia:
1 KARDEC Allan. Revista Espírita, junho de 1865. FEB, Brasília, DF.
2.LEYMARIE, Madame P.-G. Processo dos espíritas. FEB, Rio de Janeiro, RJ.
3.PONTES, Demóstenes Jesus de L.. A epopeia de uma vida. CEAC, Bauru, SP.
4.-WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. FEB, Rio de Janeiro, DF

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