quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Plantar árvores para curar a terra



Desde a independência do Quênia, nos anos 60, que o governo tem trabalhado para modernizar o país, mas muitos problemas se têm deparado. À medida que a população cresce, mais árvores são cortadas para se obter terra para cultivar e lenha para cozinhar e aquecer. Sem as raízes das árvores para segurar a terra, as chuvas fortes fazem desaparecer o solo fértil. As florestas estão a dar lugar a novos desertos.

Esta é a história de alguém que está a trabalhar para melhorar a vida dos habitantes do Quênia. O nome dela é Wangari Maathai, e o seu trabalho não é nada fácil.

Wangari Maathai foi uma das quenianas que tiveram a sorte de receber uma formação acadêmica. Na escola, disseram-lhes, a ela e aos outros jovens, que seriam eles os futuros líderes do país. Teriam a responsabilidade especial de trabalhar para ajudar o povo queniano. Wangari tomou a sério esta responsabilidade. Quando acabou a escola e viu o que estava a acontecer à terra, decidiu ajudar a plantar árvores. Não umas poucas árvores no jardim lá de casa, nem algumas centenas numa pequena floresta, mas milhares de árvores, milhões mesmo.

O seu primeiro projeto não correu muito bem. Conseguiu obter de graça seis mil árvores, mas estas eram frágeis, com raízes pequenas e apenas algumas folhas. Decidiu dá-las a plantar a pessoas que precisavam muito de trabalho. Mas essas pessoas não tinham nem as ferramentas necessárias, nem dinheiro para irem de autocarro até ao trabalho. Acresce que, devido a uma época de seca excessiva, o governo decidiu que não se podia utilizar água nos jardins. Apenas duas das pequenas árvores não morreram. Foi um começo muito desencorajador.

Por essa altura, Wangari foi a uma conferência das Nações Unidas no Canadá. Conheceu pessoas como Margaret Mead e Madre Teresa, pessoas com muita experiência no que dizia respeito a melhorar as vidas dos outros. Isso deu-lhe forças para continuar a tentar, mas percebeu que não poderia fazê-lo sozinha.

Wangari voltou para o Quênia e fundou uma associação de mulheres de todo o país. O seu primeiro projeto foi levar líderes importantes a plantar sete árvores em Nairóbi, a capital do Quênia, em honra de sete heróis quenianos importantes. Conseguiram ver as suas fotografias no jornal e obtiveram muita publicidade. Infelizmente, as pessoas que deveriam ter tomado conta das árvores não lhes deram água suficiente. As árvores depressa morreram.

Em seguida, Wangari e a associação estabeleceram o objetivo de plantar milhões de árvores em terrenos públicos. As pessoas que viviam perto olhariam por essas árvores. Chamaram ao projeto “Salvem a Terra Haram-bee” (Ha-rahm-BAY quer dizer ”Caminhemos na mesma direção”).

O departamento florestal do governo gostou dos projetos das mulheres e concordou em dar-lhes, de graça, plantas semeadas. Mas quando o comitê pediu quinze milhões de plantas ainda novas, o departamento decidiu que não podia ser assim. Quinze milhões eram demasiado.

Isto deu outra ideia a Wangari. Além de ajudar a terra, queria dar poder às pessoas que não o tinham. Por que não treinar as mulheres para criar viveiros de árvores? Assim, as mulheres poderiam ganhar dinheiro ao fornecer-lhe as árvores que ela queria plantar.

A ideia funcionou. As mulheres foram ensinadas a fazer enxertos de árvores que cresciam naturalmente nas suas zonas. Aprenderam a plantar árvores, a cuidar delas e a gerir um pequeno negócio. Estavam a aprender a ajudar-se a si próprias e, ao mesmo tempo, a ajudar a terra. Era maravilhoso.

Em breve, as pessoas começaram a plantar os tipos certos de árvores, da forma correta. Plantavam-nas em fila, de modo a servirem de barreira contra o vento e a manter a umidade do solo. À medida que as árvores cresciam e os seus ramos se expandiam, podiam ser podadas. As que eram abatidas serviam como lenha. O que era igualmente maravilhoso.

Todas as rádios e televisões davam notícias sobre as plantas e as árvores novas. Chegaram cartas de escolas, de igrejas, de instituições públicas, a pedir árvores para plantar. A ideia de Wangari ganhou um novo nome. Passou a chamar-se Green Belt Movement.

Por todo o Quênia, tanto nas cidades como nas aldeias, as pessoas começaram a formar associações. Os membros do Green Belt reuniam-se para explicar a importância das árvores. Arranjavam ferramentas de jardim, tanques de água, e davam formação àqueles que eram contratados para olhar pelas árvores. Muitas vezes, contratavam pessoas com deficiências, para as quais encontrar trabalho era ainda mais difícil. Centenas de pessoas conseguiram assim emprego.

Wangari descobriu que, frequentemente, as pessoas plantavam as árvores com grande entusiasmo, mas que depois desistiam de cuidar delas. Por isso, muitas árvores morriam. Então, os membros do Green Belt tentaram uma ideia nova. Sempre que se plantavam novas árvores, prometiam mandar a essas pessoas dinheiro pelas árvores que ainda estivessem vivas, seis meses depois da plantação. Saber que seriam monetariamente recompensadas fazia com que as pessoas fossem mais cuidadosas com as pequenas árvores enquanto estas criavam raízes.

Wangari estava preocupada, porque muitos plantadores de árvores tinham trazido novos tipos de árvores que cresciam rapidamente. Estas podiam ser cortadas e vendidas mais cedo do que as árvores naturais do Quênia. As pessoas descobriram que, assim, conseguiam dinheiro mais depressa. Mas as árvores que são plantadas para serem abatidas dentro de poucos anos não resolvem o problema da erosão do solo. E estas árvores perturbam o equilíbrio próprio da natureza. Além de lenha e material para construção, as árvores nativas do Quênia fornecem igualmente forragem para animais, frutas, mel e ervas medicinais, coisas que as árvores importadas não provêm.

Wangari está a trabalhar arduamente para ensinar às pessoas que as árvores nativas são melhores para o Quênia e apercebe-se de que os seus esforços não têm sido em vão. Em apenas doze anos, foram criados mil e quinhentos viveiros de árvores. Mais de dez milhões de árvores nativas foram plantadas em terrenos públicos pelo Green Belt Movement. Muitas estão em cinturas verdes perto de escolas e são as crianças da escola que tomam conta delas. Mais de um milhão de crianças fazem este trabalho. Cada criança cuida de uma ou de duas árvores.

Em 1989, o Global Windstar Awards deu a Wangari Maathai dez mil dólares pelo seu trabalho de plantação de árvores e de defesa do ambiente no Quênia. As pessoas perguntaram-se o que iria ela fazer com todo esse dinheiro. Na cerimônia de entrega do premio, anunciou que o daria a viveiros de árvores e às associações do Green Belt Movement noutras partes de África.
Wangari Maathai fala sobre “aquilo que há de Deus” em todos nós. Acredita que “o que há de Deus” é a nossa capacidade de nos importarmos com as pessoas – todas as pessoas – e com a nossa terra preciosa.


Janet Sabina e Marnie Clark

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