segunda-feira, 13 de abril de 2015

Confúcio



(551 a 479 AC.) Confúcio nasceu na China, na província de Lu. Mostrou, desde criança, grande inclinação para toda a espécie de ritos e cerimônias. Apreciava a música e sabia cantar e tocar alaúde e cítara. Se o víssemos agora, em pessoa, achar-lhe-íamos o aspecto um tanto cômico, com as narinas largas, olhos oblíquos, com uma protuberância no alto da cabeça. Era um homem de estatura elevada e de compleição vigorosa. Na idade madura, quis adestrar-se na arte de viver; abandonou, então a sua província natal e partiu para a capital, a fim de pesquisar.

Foi um dos mais notáveis mestres da arte de viver, e exerceu o seu magistério com singeleza insuperável. Não foi santo nem profeta. Não possuía a chave dos segredos do Universo. Embora se diga com frequência que as suas teorias influíram na religião da China, a verdade é que se preocupou pouco com a religião. O seu empenho mais ardente era conseguir que o homem agisse moralmente bem. Confúcio resumiu a sua doutrina num preceito, uma norma fundamental de conduta que tem o seu equivalente no Evangelho: "Não façais aos outros o que não queres que te façam a ti".

Por vezes, os ensinamentos de Confúcio revelam-se singularmente análogos aos contidos nas Escrituras. Esta similaridade deu, aliás, matéria para que se estabelecessem as analogias e as diferenças entre uns e outros. Por exemplo, o mandamento cristão: "Não julgues, se não quiseres ser julgado" equivale à sentença de Confúcio segundo a qual, para julgarmos os outros, devemos servir-nos do nosso foro íntimo como termo de comparação. Não poderíamos ter nós cometido o mesmo pecado? Por outro lado, a contrastar com o preceito cristão de retribuir com o bem a quem nos faz mal, Confúcio sustentava que se devia responder "ao mal com a justiça e ao bem com a bondade".

Confúcio ganhava a vida como mestre. Não cobrava dos seus alunos uma importância fixa e ensinava gratuitamente os jovens pobres, mas dotados. O que chegou até nós da sua doutrina devemo-lo às extensas compilações feitas pelos seus discípulos, sob a forma de máximas soltas e trechos de conversas. Infelizmente não formam um conjunto relacionado com a história da sua vida, como é o caso de Jesus. "Em matéria de linguagem", dizia Confúcio, "o que importa é exprimir a ideia". A sua prosa é, de fato, sempre tão linear e límpida como a destes ditames:

- Aonde fores vai com todo o teu coração.

- O maior defeito é ter defeitos e não procurar corrigi-los.

- Não te suponhas tão grande que os outros te pareçam pequenos.

A sua inteligência tinha um pendor científico. Ao acentuar a necessidade da maleabilidade de espírito, de substituir o dogma pela investigação dos fatos, de evitar conclusões definitivas, adiantou-se mais de dois mil anos em relação à sua época. Foi ele quem primeiro formulou a norma considerada como regra de ouro da ciência: "Quando ignoramos uma coisa, reconhecer que a ignoramos é sabedoria". Desta forma, repudiava as crenças supersticiosas e a subordinação do pensamento ao desejo. Igual finalidade pretendia ao insistir na importância da sinceridade, não simplesmente no discurso mas também no diálogo íntimo de meditação.

Confúcio jamais permitiu a frouxidão moral ou a autoindulgência. Era um mestre tão rigoroso como exigente. Os seus discípulos deviam adquirir "dignidade, seriedade, firmeza de propósito, lealdade, é bondade e atenção reverente àquilo a que se dedicarem".

Tal como faria Platão duzentos anos mais tarde, Confúcio traçou as linhas-mestras de uma república ideal. A república por ele imaginada nasce de um mundo em que os homens viveriam como membros de única família. Tal conceito era utópico, pois pedir aos chineses que tratassem todos os homens como seus irmãos era exigir demais. Muito embora o soubesse, Confúcio quis fazer com que o Mundo se encaminhasse para esse ideal.

Embora Confúcio tenha viajado vários anos pela China acompanhado de um reduzido grupo de discípulos, na esperança de encontrar um monarca que lhe oferecesse a oportunidade de realizar as reformas com que sonhava, alguns traços do seu caráter contrariaram a sua própria ambição.

Em primeiro lugar, falava com mais franqueza do que convém a um político. A um príncipe violento que pediu conselhos sobre a arte de governar os homens, limitou-se a responder: "Começa por aprender a governar-te a ti mesmo".

Velho e cansado, pensando que a sua pregação fora inútil, Confúcio retirou-se para a sua terra natal. Aí viveu ainda alguns anos, dedicando-se ao ensino, e morreu convencido de que a sua vida fora um fracasso.

Os discípulos choraram-no como a um pai. E, como derradeira homenagem, e porque na China era costume os filhos guardarem três anos de luto pelo progenitor, os discípulos empregaram todo este tempo inventariando e anotando as instruções do mestre. Estas compilações converteram-se na Bíblia do povo chinês.

Tantos livros se escreveram acerca da sabedoria de Confúcio que a vida inteira de um homem não seria suficiente para os ler. A simplicidade, a pureza, a elevação da arte de viver por ele ensinada e praticada farão que o seu pensamento resplandeça perpetuamente.


Fonte: Biografias Espíritas, do portal Autores Espíritas Clássicos.

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